Nizardo Wanderley

Cavaleiro Solitário

Textos


MEU AMOR PELA JUMENTA

Eu vivia acabrunhado,
Sortero, dirmantelado,
Solitaro, chei de dô...
E percurei na cidade,
Uma mulé de verdade,
Que quisesse o meu amô.

Mas eu era um caba pobre,
Num tinha famía nobre,
Liso, chega dava dó...
Vivia atrás de tabaco,
Mas minha mala era um saco,
E o cadiado era um nó.

Eu até que era bunito,
Mas pra cumê um priquito,
Rodava feito um pinhão...
E cada vorta que eu dava
Eu ia em casa e butava,
Quaje um vrido de loção.

Eu ja tava me achando
Triste e vivia chorando,
Sintindo inté pena deu...
Querendo achar a razão
Que as puta da região,
Num dava o xibiu a eu.

Um dia me imbucetei,
Das mulé eu me isolei,
Pois vi que a coisa era preta.
E mudei compretamente,
Me intreganto totalmente
Somente a bater punheta.

Minha rede era lavrada,
Seca dura e isturricada
Nunca butei pra lavá...
Me lembro no mes de junho,
Tinha gala inté no punho,
No de cá e no de lá.

Uma vez tive atitude,
Fui pro beiço do açude,
Cum uma garrafa de cana,
Duas latinhas de celva,
E uma carne de conselva,
- Pense num dia bacana.

Eu já tava mei melado
E escutei um relinxado
Ecuando no vazio...
Oiei pro riba da venta
E avisteu uma jumenta,
Na cabiceira do rio.

A bixa era aprumada,
Num tinha veia quebrada
E as perninha bem lisinha...
A xoxota depilada,
E a bunda toda impinada,
Nem celulite ela tinha.

Eu me aproximei da rosa,
Tentei puxá uma prosa,
Mas ela nem respondeu...
E eu fiquei matutando:
- Ô tá se valorizando
Ô intão cum nojo deu.

Cheguei bem pertinho dela,
Dei um sorriso pra ela,
Mas ela nem se buliu...
Eu pensei: - "Casei agora
Pois essa feme é a nora,
Que mamãe sempre pediu".

Arriei o meu carção,
Puxei "os troço" cum a mão,
E nela fui impurrando...
Me senti um home brabo,
Ela levantou o rabo
E ficou só mastigando.

Atolei inté o pé,
Pois era minha mulé,
Já tava sacramentado...
Acabou meu sofrimento,
E eu me sintia um jumento,
Feliz e apaixonado.

Ô jumenta abençoada!
Me faz dar cada gozada
Naquela “xana” de forno...
Ainda ontem dei nove,
Só não fiz sessenta e nove,
Nem comi ela no torno.
 
Nunca reclama de nada,
Muito fiel, dedicada,
Quando me vê dá festança...
Não perturba minha paz,
Não bota chifre e nem faz
Fuxico na vizinhança.
 
Já rasguei cinco pijama,
Quebrei seis lastro da cama
E galei doze colchão...
Sô doidim pela bichinha,
Nós só dorme de conchinha-
Se imburralhando no chão.
 
Ai de quem olhar pra ela,
Morro de ciúme dela,
E me considero certo...
Vejam se sou ciumento:
- Mandei matar os jumento
Tudim que morava perto.
 
Num tem feme igual a ela,
Odeia assistir novela
E nem por isso malogra...
Eu sô privilegiado,
Não tenho o tal do cunhado
E nem a peste da sogra.

É ela a musa da casa,
Nas trepeda é uma brasa,
Me tem amor verdadeiro...
Não tem macho de disfrute,
Nem messenger, nem orkut,
E nem me pede dinheiro.

A feme é tudo de bom,
Tem abuso de batom
E uma beleza é singela,
Pra mim só tem dois defeito:
Num posso chupar os peito,
Nem mamar nos beiço dela.

Tem a boca de viludo,
Satisfaz a eu em tudo
Só num pode me dá fi...
Econômica na mesa,
Minha única despesa,
É com um kilo de mi.

Quando chego ela tá lá,
Doidinha pra me beijá,
E eu beijo, abraço e lhe sondo,
E vô confessá um fato:
- Só num lhe dô um sapato,
Pruquê seus pé são redondo.

As mulé são as curpada
Deu ter trocado as as raxada
Por uma mulé de venta,
Pois quando elas me isolô,
O coração despertô
MEU AMOR PELA JUMENTA.

Nizardo Wanderley
Enviado por Nizardo Wanderley em 15/01/2007
Alterado em 25/11/2007


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